FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

FUNDAÇÃO MALCOLM LOWRY

Este blogue foi criado com o intuito de unir a comunidade lowryana de todo o mundo, a fim de trocar ideias e informação sobre o autor, promover a organização de conferências, colóquios e outras actividades relacionadas com a promoção da sua obra. Este é o primeiro sítio trilingue feito no México sobre o tema. Cuernavaca, México.


Malcolm Lowry Foundation


This blog was created to comunicate all lowry scholars, fans and enthusiastics from around the world in order to promote the interchange of materials and information about the writer as well as organize events such as lectures, colloquiums and other activities related to the work of the author. Cuernavaca, Mexico.


FONDATION MALCOLM LOWRY

Ce blog a été crée dans le but de rapprocher la communauté lowryenne du monde entier afin de pouvoir échanger des idées et des informations sur l'auteur ainsi que promouvoir et organiser des conférences, colloques et autres activités en relation avec son oeuvre. Cuernavaca, Morelos, Mexique.


miércoles, 23 de septiembre de 2015

Malcolm Lowry e Portugal

Com excepção da sua breve passagem por Lisboa no final de Maio de 1933 a caminho de Inglaterra, não se conhece outra relação de Malcolm Lowry ou da sua obra com Portugal. Esta circunstância não constitui, no entanto, motivo para, quase 55 anos depois da publicação no nosso país de Debaixo do Vulcão, a edição de uma das obras-primas la literatura mundial não continuar a ser motivo de regozijo e também renovado pretexto para revisitar Malcolm Lowry e empreender uma breve revisitação à passagem deste autor por Lisboa.
MALCOLM LOWRY EM GRANADA…
Na Primavera de 1933, Lowry vai com Conrad Aiken (escritor norte-americano, seu ídolo e tutor) e a mulher deste passar umas férias a Espanha, país que estava a viver então a Segunda República e no qual não eram ainda visíveis os sinais que três anos depois levariam à Guerra Civil, magistralmente abordada em Debaixo do Vulcão. Em Granada, a aguardente não deixou de seduzir Lowry, talvez em demasia, o que o levou a ter problemas com a Guardia Civil andaluza e a fazer crescer a vontade de Aiken em reenviar o jovem para Inglaterra.
Pensão Villa Carmona, em Granada, onde Malcolm Lowry ficou hospedado e conheceu Jan Gabrial.


No dia 19 de Maio, Lowry conhece Janine Vanderheim, com quem casará poucos meses depois. Jan era uma bela jornalista norte-americana que estava de férias em Granada (também Yvonne e Geoffrey se conhecerão nesta cidade), vai a caminho de Paris com um amigo francês, delicia-se com o escritor mas resiste-lhe, levando Malcolm a procurar um amigo na bebida e continuando a testar a paciência das autoridades espanholas.

No regresso a casa, Lowry embarca no Strathaird, navio da companhia P&O que fazia a carreira da Austrália, no qual partilha uma cabina com três ingleses «saídos de um romance de Somerseth Maugham», que, vindos da Índia, regressavam à pátria. No ano seguinte, este barco ficará associado ao nome de Egon Kisch, jornalista checo antinazi, que para evitar ser expulso da Austrália, à saída de Melbourne saltou do Strathaird tendo partido uma perna. Poucos anos depois, integrando as Brigadas Internacionais, Kisch estará a combater na Guerra Civil de Espanha ao lado das tropas antifranquistas, como Hugh Firmin, o meio-irmão do cônsul.
… E EM LISBOA
Regressando a Malcolm Lowry, sabemos que apanhou um comboio até Algeciras, tendo embarcado no Strathaird em Gibraltar no dia 29 de Maio, data em que aquele navio continua a sua rota para Inglaterra e que levará o escritor a terras lusitanas.
O navio Strathaird.
Durante muito tempo subsistiu a dúvida sobre o dia exacto em que Malcolm Lowry chegou a Lisboa – na realidade, segundo as biografias dedicadas ao autor de Debaixo do Vulcão, não terá sequer saído do navio. Fazendo uma pesquisa aos movimentos do intenso tráfego portuário da época (as ligações intercontinentais eram feitas por via marítima), cujas chegadas e partidas de paquetes eram amplamente noticiadas pela imprensa, não há registo da passagem do Strathaird por Lisboa.

Aliás, consultando o «Voyage Report Card» deste navio relativo aos meses de Maio e Junho de 1933, confirma-se a falta de referência à capital portuguesa. Tal ausência não surpreende, pois estamos em crer que a paragem terá sido apenas técnica, sem saída ou entrada de passageiros, razão pela qual não tem de constar naquele relatório. Segundo este documento, o Strathaird parte de Gibraltar no dia 29 de Maio e aporta em Plymouth no dia 1 de Junho – passando, naturalmente, por Lisboa.
«Voyage Report Card» do navio Strathaird referente aos meses de Maio e Junho de 1933.


A delimitação deste período de tempo de quatro dias (entre 29 e o dia 1) é fundamental para sabermos com rigor o dia exacto da passagem de Lowry por Lisboa. Se tomarmos em atenção a velocidade do navio e a distância entre Gibraltar e o porto no Sul de Inglaterra, não haverá nenhuma dúvida de que o dia de passagem de Lowry por Lisboa é o dia 30 de Maio de 1933.
Feira do Livro no Rossio, em Lisboa, nos anos 30.



É este o único contacto do escritor nascido em Warren Crest com o nosso país. Mas que Portugal é este que Malcolm Lowry (não) encontra? Em Março, é aprovada por plesbicito uma nova Constituição (em que as abstenções são contadas como votos a favor), que entra em vigor no mês seguinte e que perdurará até ao dia 25 de Abril de 1974, quando uma revolução põe fim a uma ditadura de 48 anos. António de Oliveira Salazar é nomeado presidente do Conselho e governará o país até cair de uma cadeira em 1968, sucedendo-lhe Marcelo Caetano, que continuará a governar em ditadura. A censura é estabelecida para as publicações; é criada a PVDE-Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, polícia política que exercerá uma forte acção repressiva sobre os combatentes antifascistas, sobretudo nas inúmeras manifestações que, de norte a sul do país, têm lugar contra o Governo fascista. Fernando Pessoa publica «Tabacaria» na revista Presença, e Pierre Hourcade (lusófilo ilustre, professor na Universidade de Coimbra e futuro director do Institut Français au Portugal) traduz para francês alguns poemas do autor de «Ode Triunfal». Em Lisboa, o filme M – Matou está em exibição. Tem como protagonista Peter Lorré, que actuará depois em Las Manos de Orlac – e não deixará Geoffrey Firmin dormir em paz. Na Europa, as nuvens vão gradualmente ficando mais negras. Na Alemanha, Hitler ascende a chanceler e em breve (como o Japão) abandonará a Sociedade das Nações; em Espanha, Primo de Rivera cria a Falange.
A PUBLICAÇÃO DE DEBAIXO DO VULCÃO EM 1961
Em 1961, catorze anos depois da sua edição nos Estados Unidos e em Inglaterra, é publicado em Portugal Debaixo do Vulcão. A situação no nosso país Portugal não mudara muito e este seria o annus horribilis do ditador Salazar. A ditadura continua firme, as eleições fraudulentas haviam continuado a perpetuar a União Nacional no poder, mas o descontentamento popular e as formas de combate ao regime farão sentir-se e agravar-se-ão ao longo de todo o ano.
Ficha de Debaixo do Vulcão no catálogo da Biblioteca Nacional de Portugal.



No dia 4 de Janeiro, uma rebelião de camponeses (Revolta da Baixa do Cassange) contra o consórcio luso-belga Cotonang é reprimida com violência pelas autoridades, fazendo centenas (ou milhares) de vítimas e iniciando, assim, a Guerra Colonial em Angola. Poucos dias depois, Henrique Galvão, antigo delfim de Salazar, sequestra o paquete Santa Maria nas Caraíbas, levando o barco até ao Brasil perante o olhar incrédulo do ditador e despertando o mundo para a realidade política portuguesa. Em Março, a Libéria apresenta uma queixa contra Portugal nas Nações Unidas, o que levará à aprovação de uma moção a condenar a situação em Angola e de outra a favor da sua autodeterminação. No mês seguinte, o general Botelho Moniz promove uma tentativa de golpe de Estado (A «Abrilada»). Em Novembro, o Super Constellation da TAP que fazia a ligação entre Casablanca e Lisboa é desviado por um comando armado («Operação Vagô») e distribui folhetos subversivos sobre várias cidades, incluindo a capital do país. Para finalizar o ano da pior maneira, a União Indiana ataca os últimos territórios portugueses no Oriente: Portugal perde as cidades de Diu e Damão e o estado de Goa, colocando ponto final a uma presença imperial que tem quase quinhentos anos.
A Avenida da Liberdade, em Lisboa, durante os anos 60.



A edição do romance de Malcolm Lowry não suscitou grande interesse por parte do público, motivando apenas um diminuto grupo de leitores que lia Debaixo do Vulcão em pequenas tertúlias. Traduzido por Virgínia Motta, tem 388 páginas e a publicação é da responsabilidade da Livros do Brasil, editora surgida em 1944. Este livro integrará a colecção «Dois Mundos», dedicada à literatura universal, na qual constam nomes como André Malraux, Albert Camus, Aldous Huxley, Ernest Hemingway, Franz Kafka, John Steinbeck, Pearl S. Buck ou William Faulkner, entre muitos outros de reconhecimento mundial. Nesta colecção seria ainda publicado o romance Ultramarina, em 1986, com tradução de Fernanda Pinto Rodrigues.
A OBRA DE MALCOLM LOWRY EM PORTUGAL
A publicação das restantes obras de Malcolm Lowry estará dispersa por distintas editoras: Escuro como o Túmulo Onde Jaz o Meu Amigo (Dark as The Grave Wherein My Friend is Laid) foi editado pelas Publicações Europa-América, em 1973, com tradução de Carmen González. Ouve-nos Senhor do Céu que é Tua Morada (Hear Us O Lord From They Dwelling Place) é editado em 1976 pelas Iniciativas Editoriais, com tradução de Ana Hatherly. Lunar Caustic foi traduzido por Aníbal Fernandes e publicado pela Assírio & Alvim em 1985. O mesmo tradutor será responsável pelo texto em português de Ghostkeeper (novela que integrara Psalms and Songs), publicado em 1988 pela Hiena, editora também responsável por Por Cima do Vulcão (1991), com tradução de Augusto T. Dias. No ano seguinte, a Estampa publicará a obra O Barco de Outubro para Gabriola (October Ferry to Gabriola), traduzida por Maria José Figueiredo. Anna Hatherly traduzirá ainda Através do Canal do Panamá (Through the Panama), que será publicado pela Relógio d’Água (editora que em 2007 reeditará Debaixo do Vulcão, com tradução revista). Um ano depois, José Agostinho Baptista traduz um conjunto de poemas – As Cantinas E Outros Poemas do Mar e Do Álcool.
A edição portuguesa de 1961.
A edição portuguesa de 2007.


 
OS TRIBUTOS A LOWRY
Se Debaixo do Vulcão não suscitou, como referimos, grande interesse quando foi publicado em Portugal, não deixou de chamar a atenção e de entusiasmar alguns escritores. Carlos de Oliveira não o esconde, prestando-lhe homenagem com o poema «Debaixo do Vulcão», publicado em Micropaisagem em 1968, e passando o entusiasmo a outro grande escritor – Baptista-Bastos. O poeta Manuel Gusmão é outro admirador da obra, tal como Herberto Helder, que «mudará» alguns poemas para português, e Al Berto, que na edição do Diário de Notícias de 13 de Janeiro de 1985 dedicará a Malcolm Lowry cinco «cartas inúteis» e evocá-lo-á, anos mais tarde, em 1993, em O Anjo Mudo.

Outro grande poeta, José Agostinho Baptista, editará Debaixo do Azul sobre o Vulcão, texto de grande intensidade que percorre o México (país de eleição deste poeta, que, por medo de viajar de avião, nunca conheceu) e que retoma alguns dos ambientes e das personagens de Debaixo do Vulcão. Em 2000, Manuel de Freitas presta igualmente um tributo a Lowry com "Todos contentes e eu também" (nome de uma cantina em Tomalín – final do capítulo IX de Debaixo do Vulcão –, que, além de evocar o escritor inglês na epígrafe, contém os poemas «El Farolito» e «Gusano Rojo», nome de uma das incontáveis bebidas que o cônsul bebe ao longo do romance. No ano seguinte, a homenagem continuará no seu novo livro (Os Paraísos Artificiais), através dos poemas «Gloomy Sunday» e «Whiskey on a Sunday». Debaixo do Vulcão é ainda uma das obras favoritas do escritor Mário de Carvalho (considera Geoffrey Firmin uma das mais extraordinárias personagens da História da Literatura) e da crítica literária Ana Cristina Leonardo, que na edição do semanário Expresso de 19 de Agosto de 2012 considera ser um dos livros a levar para uma ilha deserta, apesar de ser a sua leitura, adverte, «contraindicada a todos os que buscam amenidade, conforto, repouso ou divertissement».
Carlos de Oliveira.
José Agostinho Baptista.


 
O ROMANCE DEBAIXO DO VULCÃO EM 2015
Depois de estar incluído em várias listas semelhantes, Debaixo do Vulcão integra com justiça e por direito próprio a lista dos melhores romances de sempre elaborada em Agosto de 2015 pelo jornal britânico The Guardian.

Quase setenta anos após a publicação de Debaixo do Vulcão, a actualidade do romance mantém-se incólume ao pó dos dias, compreendendo-se desta forma a incessante conquista de leitores em todo o mundo. Portugal não constitui excepção, para nosso infinito contentamento e para enorme regozijo dos amantes da Literatura. Cinquenta e quatro anos após a publicação de Debaixo do Vulcão em Portugal, está igualmente bem vivo no nosso país o génio de Malcolm Lowry.

No Norte de Inglaterra, onde repousa o corpo do profeta, ou em Omeyocan, onde jazem os amantes Yvonne e Geoffrey, os deuses não abandonam os seus entes mais queridos!
     Marcelo Teixeira
Lisboa, 6 de Setembro de 2015
Malcolm Lowry y Portugal

Con excepción de su breve paso por Lisboa a finales de mayo de 1933 cuando se dirigía a Inglaterra, no se conoce otra relación de Malcolm Lowry o de su obra con Portugal. Esta circunstancia no constituye, sin embargo, motivo —casi 55 años después de la publicación de Bajo el volcán en nuestro país, una de las obras maestras de la literatura universal— para no continuar siendo razón de regocijo y también de renovado pretexto para volver a Malcolm Lowry y llevar a cabo una breve revisión de su huella en Lisboa.

Malcolm Lowry en Granada…
En la primavera de 1933, Lowry va con Conrad Aiken —escritor estadounidense, su ídolo y mentor— y la esposa de éste a pasar unas vacaciones en España, un país que entonces vivía la Segunda República y donde no eran visibles todavía los signos que tres años más tarde darían lugar a la Guerra Civil, magistralmente abordada en Bajo el volcán. En Granada, el aguardiente no dejó de seducir a Lowry, tal vez demasiado, lo que le llevó a tener problemas con la Guardia Civil Andaluza y a dar razones a Aiken para enviar al joven a Inglaterra.
El 19 de mayo, Lowry conoce a Janine Vanderheim, con quien se casará pocos meses después. Jan era una hermosa periodista estadounidense que estaba de vacaciones en Granada —también Yvonne y Geoffrey se conocieron en esa ciudad— e iba en camino a París con un amigo francés, quedó encantada con el escritor, pero se mantuvo apartada, lo que llevó a Malcolm a beber más y a seguir poniendo a prueba la paciencia de las autoridades españolas.

Para volver a casa, Lowry se embarcó en el Strathaird, barco de la compañía P&O que hacía el viaje desde Australia, donde compartió una cabina con tres ingleses “salidos de una novela de Somerseth Maugham” que venían de la India de regreso a su patria. Al año siguiente, este barco será asociado a Egon Kisch, periodista checo anti-nazi, que para evitar ser expulsado de Australia, a la salida de Melbourne, saltó del Strathaird y se rompió una pierna. Pocos años después, integrado a las Brigadas Internacionales, Kisch luchará en la Guerra Civil española al lado de las tropas antifranquistas, como Hugh Firmin, el medio hermano del cónsul.

…y en Lisboa
Regresando a Malcolm Lowry, sabemos que tomó un tren hasta Algeciras, y luego embarcó en el Strathaird en Gibraltar el día 29 de Mayo, fecha en que ese barco continuó su ruta a Inglaterra  llevando al escritor a tierras lusitanas.

Durante mucho tiempo subsistió la duda sobre el día exacto en que Malcolm Lowry llegó a Lisboa, de hecho, de acuerdo con las biografías dedicadas al autor de Bajo el volcán, no bajó del barco. Haciendo una investigación sobre los movimientos del intenso tráfico portuario de la época —las conexiones intercontinentales se hacían por mar—, cuyas entradas y salidas de embarcos eran ampliamente reportadas por la prensa, no hay constancia del paso del Strathaird por Lisboa.

Por cierto, consultando la “Carta de Viaje” de este navío durante Mayo y Junio de 1933, se confirma la falta de referencia a la capital portuguesa. Esta ausencia no es de extrañar, pues creemos que la parada era sólo técnica, sin entrada ni salida de pasajeros, razón por la cual no aparece en el itinerario. Según este documento, el Strathaird sale de Gibraltar el 29 de Mayo y llega a Plymouth el 1 de Junio, pasando, por supuesto, por Lisboa.

Este período de cuatro días (entre el 29 de Mayo y el 1 de Junio) es esencial para saber con certeza el día exacto del pasaje de Lowry por Lisboa. Si tenemos en cuenta la velocidad del barco y la distancia entre Gibraltar y el puerto del sur de Inglaterra, no hay ninguna duda de que el día que Lowry pasa por Lisboa es el día 30 de Mayo 1933.

Este es el único contacto del escritor nacido en Warren Crest con nuestro país. Pero ¿qué Portugal es éste que Malcolm Lowry (no) encuentra? En marzo, se aprobó, por plebiscito, una nueva Constitución —las abstenciones se contaron como votos a favor—, que entró en vigor al siguiente mes y que estuvo vigente hasta el 25 de Abril de 1974, cuando una revolución puso fin a una dictadura de 48 años. Antonio de Oliveira Salazar fue nombrado Presidente y gobernó el país hasta su caída en 1968, le sucedió Marcelo Caetano, que continuó la dictadura. Se estableció la censura para las publicaciones; se creó la PVDE —Policía de Vigilancia y Seguridad del Estado—, la policía política que ejerció una fuerte acción represiva contra los combatientes antifascistas, especialmente en las numerosas manifestaciones que del norte al sur del país se llevaron a cabo contra el gobierno fascista. Fernando Pessoa publicó “Tabacaria” en la revista Presença, y Pierre Hourcade (lusófilo ilustre, profesor de la Universidad de Coimbra y futuro director del Instituto Francés en Portugal) tradujo al francés algunos poemas del autor de “Ode Triunfal”. En Lisboa, la película M – Matou estaba exhibiéndose. Su protagonista es Peter Lorre, que más tarde actuará en Las manos de Orlac y no va a dejar dormir en paz a Geoffrey Firmin. En Europa, las nubes se van haciendo gradualmente más negras. En Alemania, Hitler asciende a Canciller y pronto (como Japón) Alemania sale de la Liga de las Naciones; en España, Primo de Rivera crea la Falange.

La publicación de Bajo el volcán en 1961
En 1961, catorce años después de su publicación en los Estados Unidos e Inglaterra, se publicó en Portugal, Bajo el volcán. La situación en Portugal no había cambiado mucho y éste sería un annus horribilis del dictador Salazar. La dictadura se mantuvo firme, las elecciones fraudulentas siguieron manteniendo a la Unión Nacional en el poder, pero el descontento popular y el combate al régimen empeoró durante todo el año.

El 4 de enero, una rebelión de campesinos —Revolta da Baixa do Cassange— contra el consorcio luso-belga Cotonang es reprimida violentamente por las autoridades, dejando cientos (o miles) de víctimas y dando así inicio a la guerra colonial en Angola. Pocos días después, Henrique Galvão, antiguo “delfín” de Salazar, secuestra el buque Santa María en el Caribe y lleva el barco a Brasil ante la mirada incrédula del dictador, dando a conocer así al mundo la realidad política portuguesa. En marzo, Liberia presenta una queja contra Portugal ante las Naciones Unidas, lo que dará lugar a la adopción de una moción para condenar la situación en Angola y otra en favor de su autodeterminación. Al mes siguiente, el general Botelho Moniz promueve un intento de golpe de estado —la “Abrilada”—. En noviembre, el Super Constellation de TAP, que hacía la conexión entre Casablanca y Lisboa, es desviado por un comando armado —“Operação Vagô”— y desde ese avión se distribuyen panfletos subversivos, sobre varias ciudades, incluida la capital. Para terminar el año de la peor manera, la União Indiana ataca los últimos territorios portugueses en el Extremo Oriente: Portugal pierde las ciudades de Diu y Damán y el estado de Goa, poniendo fin a una presencia imperial de casi quinientos años.

La edición de la novela de Malcolm Lowry no suscitó gran interés, motivando sólo a un pequeño grupo de lectores que leían Bajo el volcán en pequeñas reuniones. Traducida por Virginia Motta, tiene 388 páginas y la publicación es responsabilidad de Livros do Brasil, editorial fundada en 1944. Este libro se integró a la colección “Dois Mundos”, dedicada a la literatura universal, que incluía nombres como André Malraux, Albert Camus, Aldous Huxley, Ernest Hemingway, Franz Kafka, John Steinbeck, Pearl S. Buck y William Faulkner, entre muchos otros de reconocimiento mundial. En esta colección también sería publicada la novela Ultramarina, en 1986, con traducción de Fernanda Pinto Rodrigues.

La obra de Malcolm Lowry en Portugal
La publicación de las restantes obras de Malcolm Lowry está dispersa en otras editoriales: Escuro como o Túmulo Onde Jaz o Meu AmigoDark as The Grave Wherein My Friend is Laid— fue editado por Publicações Europa-América, en 1973, con traducción de Carmen González. Ouve-nos Senhor do Céu que é Tua MoradaHear Us O Lord From They Dwelling Place— está editado en 1976 por Iniciativas Editoriais, con traducción de Ana Hatherly. Lunar Caustic fue traducida por Aníbal Fernandes y publicada por Assírio & Alvim, en 1985. El mismo traductor será responsable del texto en portugués de Ghostkeeper —novela que integrará Psalms and Songs —, publicado en 1988 por Hiena, editorial que será también responsable de Por Cima do Vulcão (1991), con traducción de Augusto T. Dias. Al año siguiente, Estampa publicará O Barco de Outubro para GabriolaOctober Ferry to Gabriola—, traducido por Maria José Figueiredo. Anna Hatherly traducirá también Através do Canal do PanamáThrough the Panama—, que será publicado por Relógio d’Água —Editorial que en 2007 reeditará Debaixo do Vulcão, con traducción revisada—. Un año más tarde, José Agostinho Baptista tradujo un conjunto de poemas: As Cantinas E Outros Poemas do Mar e Do Álcool.

Los homenajes a Lowry
Bajo el volcán no suscitó, como mencionamos, gran interés cuando se publicó en Portugal, pero no dejó de llamar la atención y emocionar a algunos escritores. Carlos de Oliveira no lo oculta, y le brinda un homenaje con su poema “Debaixo do Vulcão”, publicado en Micropaisagem en 1968, y entusiasmando a otro gran escritor: Baptista-Bastos. El poeta Manuel Gusmao es otro admirador de la obra, así como Herberto Helder, que traducirá algunos poemas al portugués, y Al Berto, que en la edición del Diário de Notícias del 13 de enero 1985 dedicará a Malcolm Lowry cinco “cartas inúteis” y lo evocará, años más tarde, en 1993, en O Anjo Mudo.

Otro gran poeta, José Agostinho Baptista, editará Debaixo do Azul sobre o Vulcão, texto de gran intensidad que transita México —país favorito de este poeta, que, por miedo a volar, nunca conoció— y que retoma algunos de los ambientes y personajes de Bajo el Volcán. En 2000, Manuel de Freitas rinde también un tributo a Lowry con "Todos contentes e eu também" —nombre de una cantina en Tomalín al final del capítulo IX de Bajo el volcán— que, además de evocar al escritor Inglés en el epígrafe, contiene los poemas “El Farolito” y “Gusano Rojo”, nombre de una de las innumerables bebidas que toma el Cónsul en la novela. Al año siguiente, el homenaje continuará con su nuevo libro Os Paraísos Artificiais, con los poemas “Gloomy Sunday” y “Whisky on a Sunday”. Bajo el volcán sigue siendo una de las obras favoritas del escritor Mário de Carvalho —quien considera a Geoffrey Firmin como uno de los personajes más extraordinarios de la historia de la literatura— y de la crítica literaria Ana Cristina Leonardo que, en la edición del semanario Expresso del 19 de agosto de 2012, la considera una de las obras para llevar a una isla desierta, a pesar de que su lectura, advierte, está “contraindicada para aquellos que buscan amenidad, comodidad o diversión”.

La novela Bajo el volcán en 2015
Después de estar incluida en varias listas similares, Bajo el Volcán forma parte, con justicia y derecho propio, de la lista de las mejores novelas que elaboró en agosto de 2015 el periódico británico The Guardian.

Casi setenta años después de la publicación de Bajo el volcán, la actualidad de la novela se mantiene intacta entre el polvo de los días, cumpliéndose de esta manera la incesante conquista de lectores en todo el mundo. Portugal no es la excepción, para nuestra alegría y gran regocijo de los amantes de la literatura. Cincuenta y cuatro años después de la publicación de Bajo el volcán en Portugal, está igualmente vivo en nuestro país el genio de Malcolm Lowry.

En el norte de Inglaterra, donde descansa el cuerpo del profeta o en Omeyocan donde reposan los amantes Yvonne y Geoffrey, ¡los dioses no abandonan a sus seres queridos!
Marcelo Teixeira
Lisboa, 6 de septiembre de 2015
(Traducción de Félix García)

domingo, 20 de septiembre de 2015

Carta a Jonathan Cape


A finales de 1945 Margerie y Malcolm llegaron a México, él quería que ella conociera los lugares que eran el escenario de la novela mientras esperaban una respuesta de Jonathan Cape, su editor inglés. En Cuernavaca, les tocó un eclipse total de luna que convirtió “el inmenso cielo nocturno de zafiro en una especie de blanco océano de lana”, visitaron el Palacio de Cortés, los Jardines Borda, nadaron en la alberca de la casa de Laruelle y pasaron mucho tiempo vigilando el buzón. Finalmente, en la víspera de año nuevo, llegó una carta. Era de Cape y estaba fechada el 29 de Noviembre de 1945. Cape decía en la carta que él, junto con dos de sus lectores, habían leído cuidadosamente Bajo el volcán y que incluía el dictamen de uno de sus lectores, que parecía “cristalizar muy efectiva y exactamente” lo que pensaban los tres sobre la novela. El dictamen pedía revisiones. Cape no decía que no publicaría la novela si no se efectuaba una revisión más, pero garantizaba la publicación si Lowry revisaba una vez más el libro. “Sentimos que el libro tiene integridad e importancia, pero sería una lástima que apareciera como está, porque creemos que las modificaciones contribuirían enormemente a su aceptación y al mismo tiempo creemos que la novela mejoraría considerablemente en un sentido estético”.

Ahora sabemos que Bajo el volcán tiene dos tipos de lector: los entusiastas y los indiferentes. El lector de Cape no era de los entusiasmados. Escribe un breve resumen de la trama: “Es una novela, pero de situaciones más que de acción. La época es 1938, el lugar, México, y la acción, tal como es, transcurre en un solo día. La situación es que un inglés, Geoffrey Firmin, con un puesto de Cónsul en un pueblo mexicano, es un borracho perdido, divorciado de su esposa estadounidense, Yvonne. No ha dejado de añorarla, alcohólicamente; y ella se ha sentido obligada a volver a él, con la esperanza de reformarlo y empezar una nueva vida (la vida simple, en Columbia Británica). También está presente Hugh, el hermano menor de Geoffrey, una piedra rodante, comunista y atlético; y un descarriado francés, Jacques Laruelle, amigo de toda la vida de Geoffrey, que en el pasado se acostó con Yvonne. Todo lo que sucede es que Geoffrey, Hugh e Yvonne pasan el día de un lado para otro, suben a un camión, visitan una feria, etc. Hugh e Yvonne están juntos la mayor parte del tiempo, Geoffrey solo. Finalmente, lo pierden de vista, se mete en una cantina a beber y, al final, un fanático lo asesina”.

Toda esta situación, continúa el lector, está muy elaborada por 1). “recuerdos de la vida pasada de los personajes y pensamientos y emociones presentes y pasados”; 2). “color local mexicano acumulado a paletadas”; 3). “la fantasmagoría inspirada por el mezcal o por el delirium tremens que Geoffrey padece”. Al lector le parece que lo primero es “tedioso y poco convincente”; lo segundo, muy bien hecho; y lo tercero, aunque excitante, “muy extenso, irregular y elaborado”; y, lo que debió herir más a Lowry, evoca la reciente “novela y película: The Last Weekend”.

Así pues, el lector objeta el extenso y tedioso principio del libro, la poca fuerza de la caracterización y la excesiva extensión de la novela: “el libro es demasiado largo, sobre elaborado para su contenido, y podría ser mejor si sólo tuviese la mitad o las dos terceras partes de su extensión”. Concluye diciendo que “el autor se ha excedido más allá de sí mismo y es afecto a los excéntricos juegos de palabras y a un uso excesivo y carente de sentido del flujo de conciencia”.

Era un dictamen notable, pero condenaba exactamente lo que los defensores de Bajo el volcán han encontrado admirable. Lowry estaba frustrado, se le pedía que cortara su novela casi a la mitad y que eliminara lo que sentía era lo mejor. Pero tomó las cosas de la mejor manera posible: como un desafío. Valiente y serenamente, se sentó el 2 de enero de 1946 y empezó a escribir una resplandeciente, hábil y sufrida defensa de Bajo el volcán. No debió haber sido fácil, pero logró escribir una exégesis de treinta y un páginas que daba razones de porqué todo era como estaba y qué significaba y cuando la envió, el 15 de enero, era ya un documento único en la historia de la literatura.
 
 
Documento de trabajo del Maestro Raúl Ortiz y Ortiz - Facsimilar